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quinta-feira, 2 de junho de 2011

Ringstrasse - O anel da cultura Vienense


Já o dia ia a meio e os quilómetros de caminhada acumulavam-se já no pedómetro que não havíamos levado mas que certamente nos teria surpreendido em largos números. A procura da tal casa, que ainda hoje não tenho coragem sequer de ler as primeiras silabas, havia aberto o apetite para mais um pequeno piquenique, o último nesta cidade que já nos havia cativado, piquenique esse que dado o seu simbólico fim requeria um local bem especial para a sua concretização. Assim de mochila cheia das mais saborosas iguarias nacionais (pizzas, pão de forma, salsichas) algumas já com uns 5 dias de existência em caixas de plástico, rumámos para Stadtpark bem no coração da cidade.

Stadtpark - O parque da cidade de Viena

Apesar de aquele meio dia estar solarengo e menos frio, uma vendaval teimava em dominar aquele parque que havíamos escolhido para o nosso almoço. Já lá havíamos passado numa das noites na cidade, mas só à luz do dia temos  noção dos seus 65 000 m2 ajardinados que ocupam desde o primeiro ao terceiro distrito da cidade. Inaugurado em 1862 como parque público em estilo Inglês tem sido até hoje um dos locais mais frequentados pelos habitantes bem como pelos turistas (daqueles que fazem farnel em qualquer lado bem a à moda lusa, claro Nós). 
O parque além de um refúgio para a cidade está repleto de cantos arborizados e um lago central rodeados por várias obras de arte, sendo a que mais se destaca é o monumento a Johann Strauss. 
Foi mesmo ali com vista para tão famosos músicos que decidimos montar acampamento dar descanso às pernas e acalmar o estômago, almoço que decorreu numa maratona incansável a correr atrás de guardanapos e restos alimentares que o vendaval decidiu espalhar por aquele até então imaculado parque.


Monumento a Strauss

Após o almoço à corrida (nos dois sentidos do termo) e depois de limpa toda a sujeira que o vendaval criou decidimos dar uma voltinnha pelo parque e procurar o famoso Danúbio Azul, que dessa cor os vestígios são escassos. Ainda hoje não consigo explicar esta sensação, mas fiquei com a ligeira impressão de que Viena vive de costas voltadas para o Danúbio, provavelmente pelo esplendor da própria cidade, não sei mas o rio passa descansadamente pelos seus bairros e nós nem nos damos conta da sua presença. Estranho!

Ringstrasse

Mapa da Ringstrasse
 A magia de caminhar a pé pelas cidades do Mundo reside nas surpresas que vamos encontrando a cada esquina, e sem darmos muito bem conta, ao fim de meia dúzia de passos encontra-mo-nos novamente no centro histórico de Viena, na famosa avenida circular de nome Ringstrasse. Até ao séc. XIX a cidade de Viena vivia muralhada apesar de todo o esplendor que já então possuía. O crescimento da população aliado a um maior crescimento das riquezas da burguesia ditaram a demolição das muralhas da cidade medieval para dar lugar a uma avenida circular repleta de palácios e palacetes bem como das novas instituições imperiais que surgiam por essas alturas. Desta forma a Ringstrasse foi-se embelezando dos mais imponentes edifícios da cidade e hoje em dia um passeio por esta incrível avenida leva-nos a descobrir o coração e a arte Vienense.


Staatsoper - Ópera Estatal de Viena

O inicio da tarde de passeio pela Ringstrasse acabara de ser inaugurado com a visita à sumptuosa Ópera Estatal de Viena ou Staatsoper como por lá lhe chamam. Como capital da música clássica a cidade sempre fora conhecida pela sua dedicação à música erudita e como tal o edifício da ópera é um dos seus maiores marcos culturais. A Staatsoper foi a primeira grande obra da nova avenida, inaugurado já no longínquo ano de 1869 ao som de Don Giovanni do filho adoptivo da cidade, Mozart. Toda a elegância que este gigantesco monumento à música transporta para o exterior é assombrada pela opulência do seu interior, que nessa mesma noite haveríamos de descobrir, na que baptizamos como noite da iniciação oficial ao mundo das artes, sim fomos à ópera. Ficámos ainda alguns minutos a deslumbrar-mo-nos e a tirar algumas (dezenas) fotos, a deslindar se era necessário algum tipo de indumentária especial para a tão aguardada noite. Ficam algumas fotos do exterior do edifício e um post posterior sobre o seu interior.

   



Edifico da Secessão

Não muito longe da magnifica ópera, numa rua perpendicular à Ringstrasse encontrasse um dos mais carismáticos monumentos da cidade, o Edifício da Secessão. Contudo o interesse que tenho por esta obra tem uns contornos algo interessantes. Durante bastante tempo na minha vida não tinha nenhuma imagem associada à cidade de Viena, como Paris tem a torre Eiffel e Lisboa a Torre de Belém, para mim Viena era uma cidade abstracta sem um cartão postal do qual a pudesse reconhecer. Mas tanta ignorância iria desaparecer graças à televisão; a dada altura na minha adolescência começa a ser transmitida na Tv após o almoço a famosa série austríaca Rex o cão polícia. Quem não se recorda dos seus episódios que foram transmitidos durante anos, sobre os crimes mais hediondos descobertos por um pastor alemão e o seu dono?! Pois bem, foi aqui que começou a minha paixão por Viena, através de uma série televisiva, mas continua a questão: o que tem a ver este monumento com o Rex o cão polícia? Tudo! Passo a explicar, o edifício da sucessão aparecia no genérico da série e na minha mente adolescente fica a ideia de "que raio de prédio é aquele com o Ferrero Rocher no telhado", ideia essa que só alguns anos mais tarde se veio a dissolver e dar lugar a admiração pela obra.

Edifício da Secessão e o seu "Ferrero Rocher"
  Afinal este edifício datado de 1898 foi projectado pelo por Joseph Maria Olbrich em estilo Jugendstil para a realização das exposições da Secessão, um movimento liderado por Gustav Klimt que surgia como oposição à arte tradicional, com a pretensão de romper drasticamente com a tradição académica. A sua moderna arquitectura para a altura (e ainda para os dias de hoje) consistia num edifício quase sem janelas, de forma quadrada encimado por um globo de filigrama dourada sob o qual está escrito a divisa do movimento "Para cada época a sua arte, para a arte a Liberdade".

Mais de 100 anos passados após a sua inauguração, e esclarecida toda a minha ignorância sobre esta estranha obra, deu-se o lugar à admiração pelo seu design inovador e pela ousadia. No seu interior ainda hoje se dão lugar a exposições, mas o motivo alto da sua visita é o friso pintado por Klimt em 1902 sobre Beethoven, com cerca de 34 m de comprimento que se crê ser um comentário à Nona Sinfonia do compositor.



 Junto ao edifício encontra-se uma estátua de Marco Aurélio puxado por leões, como símbolo da decadência do imperador que é representado obeso e desleixado e os leões velhos e famintos. Foi impossível conter um sorriso de auto-censura na hora do ir embora, reconhecer que o desconhecimento nos faz cair no ridículo e no fim vir a descobrir que debaixo do tal "Ferrero Rocher" se esconde um mundo de arte e significado que vale a pena visitar, mesmo quando o Rex já não patrulha as ruas de Viena. 

Coordenadas:
Como chegar: Metro Karlsplatz, Morada: Friedrichstrasse 12
Horário: 10-20h; Ingresso: 8,50€
Links: Página oficial  Blog sobre a Secessão

Neue Burg

Já de tanto palmilhar a cidade (e felizmente que é plana) decidimos fazer uma paragem técnica para descanso numa praça nas traseiras do palácio de Hofburg, sem fugir ao rumo que seguíamos ao longa da famosa avenida.
Na Heldenplatz brilhava um sol que nos confortava naquele descanso a meio da tarde perante uma vista imponente e elegante. Neue Burg é um enorme edifício curvo de 1881, tendo sido o último pavilhão a ser acrescentado já ao vastíssimo palácio do Hofburg. Construído numa época pouco propícia a este devaneios, 5 anos após a conclusão desta parte dos palácio caiu o Império Habsburg.
Perante esta jóia da da arquitectura desfilou ainda outra mau augúrio para a humanidade, quando em 1938 Hitler sobe à sua varanda e proclama a anexação da Áustria à Alemanha, e desde então e nos 10 anos seguintes reinou a história da II Guerra Mundial.     
Actualmente alberga a sala de leitura da biblioteca nacional e diversos museus.



Heldenplatz
Interior


Coordenadas:
Como Chegar: Estação metro Volkstheater, Morada: Burgring
Horário: 10-18h Ingresso: 12€
Link: Página oficial Neue Burg


Parlamento

Ainda a volta pela Ringstrasse ia a meio e já havíamos perdido a conta a tantos monumentos vistos cada qual imponente na sua grandeza e beleza, que não conseguimos chegar ao fim e escolher o que gostámos mais de ver. Ao longo de todo este percurso foram vários os pontos que visitamos (só nesta avenida) dos quais tenho vindo a destacar só mesmo os mais impressionantes (pelo menos a meu ver). Nessa onda de impressionismo fomos dar com o Parlamento, assim de longe quase mas quase faz lembrar o nosso palácio de S. Bento na sua arquitectura neoclássica iniciada a sua construção em 1874 tendo sido reconstruído em 1950 após a sua destruição na guerra. Por todo o lado encontramos estátuas e monumentos alegóricos à sabedoria grega e romana, mas é a fonte no seu pórtico que representa a Deusa Atenas que mais se destaca e nos impressiona. Apesar de sóbrio a fonte da-lhe um ar ainda mais majestoso e no alto da sua porta de entrada obtemos uma panorâmica muito interessante sobre a Ringstrasse, local que voltámos umas poucas horas mais tarde para vislumbrar o último pôr do sol em Viena, a cidade que tanto me encantou.


Burgtheater

Quase parecendo que estamos num determinado sítio de Portugal, onde tudo "fica mesmo já ali, é só uns passinhos", deixámos o parlamento e na nossa demanda quase sem fim encaramos o Burgtheater ali serenamente descansado neste cada vez mais sumptuosa avenida. Já lá havíamos passado (bem na verdade fizemos um piquenique de pobres mesmo na soleira da porta) mas coisa rápida nem havia dado tempo para conhecer. Agora chegava então a sua oportunidade para mais uma vez Viena nos impressionar. Este é considerado o mais prestigiado teatro de língua alemã no mundo, construído em 1888 em estilo Renascentista italiano, contudo como os grandes monumentos da da cidade, em 1945 foi atingido por uma bomba que o destruiu quase na totalidade, deixando simplesmente as alas laterais e a escadaria. Um teatro tão elegante quanto este não poderia deixar de ser restaurado, e restauro esse que fora tão meticuloso que é impossível detectar. No seu interior a grande atracção além do grande salão são as escadarias das alas norte e sul que levam ao salão. Infelizmente não assistimos a nenhuma peça (se bem que não iríamos entender nada) mas ficou o fascínio e mais uma vez o deslumbramento deste monumento.

Fachada do Burgtheater














     























Uma pessoa com tanta ostentação acaba por se esquecer de que por vezes existem necessidades que têm de ser supridas, mesmo quando andamos a adiar há algumas horas. Pois bem, era o que acabara de acontecer, a ida ao wc já tantas vezes adiada era agora um caso de urgência senão emergência mesmo. À boa maneira portuguesa nada como ir a um café, pedir uma garrafinha de água e usar e abusar dos wc, e como o destino estava do meu lado, estava mesmo ali ao lado do teatro um magnifico café com uma esplanada de inverno mesmo acolhedora, o plano estava montado, entramos, ela foi ao balcão e eu sem ninguém me ver desci rapidamente as escadas para o wc. No regresso não a encontrei, estava sentada alegremente na esplanada de vidro com vista para o teatro:
"Então! estás sentada?!"
"Pois, podias ter ido fazer xixi em muitos lados, mas tinhas mesmo de vir aqui!"
Entrega-me o guia aberto numa página e o menu do café, a página estava marcada e lia-se Café Landtmann concebido em 1873, na sua opulência era o predilecto de Freud.
" Isto parece coisa fina, alias muito fina"
"Pois é, só tu para fazeres destas, e já agora pedi um bolinho e ... pagas TU "
 Foi desta maneira que conhecemos e experimentamos as famosas iguarias deste famoso café numa espécie de sopa doce com um bolo que não sei pronunciar, mas só vos digo delicioso.

O xixi mais caro da minha vida

 
Coordenadas:
Como Chegar: Estação metro Schottentor, Morada: Dr Karl-lueger-Ring, A-1014 
Link: Página Oficial urgtheater


Neues Rathaus - Nova Câmara Municipal


Envolta por um jardim, ergue-se no céu a majestosa torre da Rathaus, o novo edifício da câmara municipal de Viena. Fora mandada construir entre os anos de 1872-83 em estilo neogótico para substituir o antigo edifício. Além das suas funções governativas este elegante edifício dá lugar a concertos de música clássica bem como a bailes nos seus sumptuosos salões. Ficamos por ali alguns minutos a conversar e a fotografar, a despedir da última tarde em Viena, ainda demos um saltinho na Universidade e nuns quantos monumentos antes de regressar.

 

















 O dia acabara por correr rápido nas horas, muita coisa fora vista nesta cidade magnifica, anoitecia rapidamente e de alma bem cheia e o cartão de memória com menos espaço estava na hora de regressar ao hotel, descansar e vestir os nossos melhores fatos de Domingo para a dita anunciação cultural. Um último olhar e um último suspiro nesta avenida surpreendente e a promessa no ar de um regresso para qualquer dia.