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quarta-feira, 31 de março de 2010

Imperialmente Viena

As escassas 5 horas e pouco que dispunha para dormir no comboio nocturno foram remédio santo para os males do corpo cansado, mas também um engodo à mente na tentativa de a enganar o físico e submete-lo a um dia extenuante de passeio.  Pouco passava das 6 da manhã quando fomos depositados na estação de Wien Westbahnhof estrategicamente situada mesmo ao lado do hotel que havíamos escolhido pela Internet. Ansiosos por despejar as malas nalgum lado e nos vermos livres daqueles empecilhos foi com quase emoção que ouvimos a espantosa noticia que o quarto reservado estava pronto. O Hotel Intercity Wien apresentou-se uma escolha muito bem situada e até acessível (infelizmente sem pequeno-almoço) e desde essa manhã foi a "base das operações" nesta cidade magnifica. Um pequeno-almoço improvisado para retemperar forças, mais uma peça de roupa vestida para enfrentar o frio gélido das ruas, e rapidamente nos fizemos à estrada. 
A localização privilegiada do hotel numa das principais artérias comerciais de Viena tornava-o acessível a todos os tipos de serviços. A Mariahilfer Strasse abre-se pela capital Austríaca como uma avenida muito elegante com todo o tipo de lojas, pastelarias etc que nos seus quilómetros nos vai deixando cada vez mais próximos do centro histórico, praticamente sem dar conta de uma caminhada de cerca de 20 minutos, ao menos sempre dava para aquecer do frio que definitivamente em Portugal não estamos habituados.
Quanto mais nos aproximamos do centro da cidade, mais esta vai fazendo justiça ao seu nome de Cidade Imperial e os seus opulentos edifícios vão surgindo e aglomerando-se. Aqui e ali vão aparecendo prédios muito elegantes e umas quantas igrejas, que não foi difícil resistir e entrar.

Mariahilfer Kirche
Por entre os edifícios daquela rua comercial e movimentada, quase escondida num gaveto, saltavam à vista as torres esverdedas de cobre do primeiro "monumento" propriamente dito que visitei. Mariahilfer Kirche é uma igreja construída no longínquo ano de 1689 no local onde existia um cemitério e onde aparentemente existia ou existe (?) uma pintura milagrosa. À sua porta montava-se uma espécie de praça, mas que aquela hora mal passava de um monte de esqueletos das barraquinhas. A porta estava aberta e sem haver necessidade de pagar ingresso entra-se numa igreja do mais puro barroco elegante a contrastar com a sua fachada menos imponente. Não havia ninguém no seu interior nem informação sobre as obras expostas, provavelmente devido a hora tão vespertina e a visita rapidamente se fez, deixando contudo uma ideia da imponência que Viena esconde nas suas ruas.
Continuando a descer a rua, embriagado com tamanha beleza que se ia mostrando os olhos e a lente da máquina fotográfica (paz à sua alma) desembocamos quase quase no centro da cidade. Mesmo ali defronte aparecem os grandes e deslumbrantes monumentos de Viena e a cabeça baralha-se sem saber muito bem qual deles há-de visitar primeiro. Mesmo à esquerda abre-se uma passagem e o aclamado Bairro dos Museus está ao nosso dispor. Os planos não pressupunham visita-lo, mas já se sabe a curiosidade é grande e não se dispensa uma vista de olhos.

Bairro dos Museus

O Bairro dos Museus é considerado uma das 10 maiores instituições culturais do Mundo, não é de admirar que após a passagem de arcos e pequenos pátios se abre perante os olhos um enorme praça ladeada por edifícios elegantes e outros modernos uma praça gigantesca. Este bairro foi instalado nos antigos estábulos reais da corte vienense e actualmente alberga obras de arte contemporânea. Caíam alguns flocos de neve naquela imensa praça vazia e tais crianças perante um brinquedo no entretivemos até descobrirmos algo um pouco mais "bizarro".  

Naquele enorme espaço estavam estacionadas duas enormes esculturas, logo logo o seu sentido não perceptível no primeiro segundo, até que um aproximação revela "Olha lá! Aquilo ali não é um espermatozóide gigante?!", "É! e aquilo ali parece um intestino grosso, e olha bem, afinal é mesmo um cú!!". Afinal aquelas esculturas em grande escala eram partes da anatomia e fisiologia humana e mais adiante até se encontrava uma mulher esquartejada. Quando finalmente as cabeças curiosas se apossaram das janelinhas pasmaram dentro do espermatozóide estava uma cama (desfeita!!) e o intestino revelava-se com o maravilhoso nome de Bar Rectum. Infelizmente não consegui descobrir quem era o autor daquela exposição, mas lá que era muito à frente, era!
A visita estava feita e acabava em tom de divertimento com tais esculturas, mais uns arcos e de caras para uma avenida bem mais movimentada, estávamos agora definitivamente a entrar nos domínios daquela Viena Imperial, que distava da outra mais contemporânea tão só os metros de uma estrada.
Maria Theresien Platz (Praça Maria Teresa)


É impressionante a maneira como se descobriu a cidade sem mudar a trajectória. Na linha recta que levávamos desde a saída do hotel até à imponência da Viena Imperial a beleza desta cidade ia-se revelando, pomposa e arrebatadora. A Praça Maria Teresa com o nome da imperatriz é ladeada por dois enormes museus "gémeos falsos" que desde o século XIX guardam respectivamente o Museu de História Natural e o Museus das Artes que guardam a vastissima colecção de tudo e mais alguma coisa dos antigos Habsburg. Conscientemente ficara decidido que não iríamos entrar nos museus, provavelmente para dar a desculpa de um dia mais tarde voltar, apesar de cá dentro ficar sempre o bichinho do "podia ter entrado". Não se podendo ter tudo na vida, resta o contentamento de os ver por fora e imaginar as relíquias que escondem. A esta altura começavam a escassear (bem como agora) os adjectivos para definir tanta beleza e imponência, pois nada nos deixava de surpreender. A praça que ao centro tem uma estátua da monarca é muito interessante e revela-se um ponto de calma e paz nesta cidade plena de cultura. A imperatriz sentada no seu trono de bronze encara ainda hoje o enorme palácio de inverno da família imperial que se estende mesmo do outro lado da praça e que iria fazer as nossas delicias naquela manhã já recheada de cultura.

   








De passo quase apressado na expectativa de ver tão aclamado palácio que diante dos nossos olhos se expunha, deixamos para trás esta praça. Estando nas traseiras do Hofburg com os seus portões fechados não restava grande alternativa senão contornar o colossal palácio até dar com a entrada e dar com um pequeno mas maravilhoso jardim.

Burggarten

O pequeno jardim que noutros tempos era o jardim privado do imperador mostra-se como uma extensão muito bem cuidada da cidade para com a natureza. A neve que caíra durante aqueles dias e o silencio que se fazia sentir quase davam para imaginar como teria sido noutros tempos polvilhado de aristocracia. Com especial alegria fomos recebidos pelo monumento a Mozart, filho adoptivo daquela cidade e maior génio da música que alguma vez existiu. Como não se sabe onde foi enterrado (morreu na miséria e enterrado numa vala comum) é um local obrigatório para todos os amantes do génio. O passeio é rápido não fosse a interminável sessão de fotografias ao conjunto que o jardim proporciona ao palácio. À saída do jardim Viena revela-se no seu expoente máximo da capital mais cultural da Europa, mas isso fica para outro post,

  
 
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segunda-feira, 22 de março de 2010

Night Train

Com a birra do sono, de uma noite mal dormida agarrado ao termómetro a ver se não fazia febre, lá me apresentei bem cedinho no aeroporto com destino ao Leste Europeu, ou o pouco mais ocidental da mesma. Uma breve paragem no gigantesco aeroporto de Frankfurt e das suas intermináveis passadeiras rolantes apanhei outro avião com destino a Praga. 
Feita criança deleitava-me ao ver os campos cobertos de neve durante a curta viagem entre a Alemanha e a República Checa, e a observar o encantador por do sol sob os campos nevados. Aquela lata com asas tocou no chão já havia anoitecido e em pouco tempo se recolheu os malões (quase baús) alguns já com ausência comprometedora de peças fundamentais. Na tentativa de levantar dinheiro em checo e o multibanco teimar em dizer que não tinha dinheiro lá fui ajudado por um português que esperava não sei bem quem naquela terra de gente com língua muito esquisita, nada feito o aparelho ganhava a guerra e lá me contentei com umas miseras coroas para a minha sobrevivência. 
Lá consegui achar um bus qualquer que diziam deixar mesmo à porta da estação e durante 45 minutos lá tentei ver alguma coisa de Praga entre a escuridão. Apeado à porta da estação Hlavni Nadrazi no seu estilo  Arte Nova completamente decadente (em restauro) não se via daquela habitual confusão das partidas e das chegadas. As ajudas e o inglês daquele povo não era o mais eficaz e durante uma série de minutos lá me tive de contentar com um sobe e desce incessante de escadas à procura da bilheteira que se não fossem os símbolos não se percebia absolutamente nada daquele alfabeto. O subterrâneo daquela estação abre-se ao mundo como um centro comercial, com lojas as ditas bilheteiras e uma série de gente com um ar assustador, afinal a União Soviética não acabou?
Após uma discussão que ia chegando às vias de facto com a mulher das bilheteiras lá se conseguiu comprar os bilhetes para Viena e ainda enfrentar uma espera de 5 horas até há chegada do comboio. De tralha bem composta montamos acampamento numa fast food  e na compra de um refrigerante fez-se sala durante algumas horas, comemos o magnifico buffet que vinha dentro das malas e ainda se preparou o almoço do dia seguinte.
Chegara a hora e completamente impacientes pelo descanso do guerreiro, lá nos montamos no comboio e nos indicaram o minúsculo compartimento com um beliche e um lavatório, na sua habitabilidade de um metro quadrado mais duas pessoas as respectivas malas casacos etc etc.
Sem mais forças adormeci e deixei-me levar naquele pouca-terra até Viena.        

quinta-feira, 11 de março de 2010

Nos Carris da Europa de Leste

Os meses transformam-se em dias e estes mesmos dias que dispomos para abraçar o mundo passam como segundos, e em menos de nada voltamos à rotina do dia-a-dia e sonhar com a próxima partida. As tralhas estão aparentemente arrumadas, apesar de um ligeiro excesso de peso na bagagem e a ideia de como irei transportar tal coisa nos transportes etc etc.
Ansiosamente esperei por este dia da primeira viagem de 2010, não sem antes uma série de percalços que me confinaram à cama num mar de febres indomável. A febre partiu e com ela vou eu também, dela espero não me voltar a encontrar e por mim não tarda estarei de volta.
O Autocarro 91 espera por mim, até amanhã ... camaradas!

terça-feira, 2 de março de 2010

Muralhas do Marvão

É certo e sabido que não há melhor remédio para fugir do marasmo da vida quotidiana do que pegar numa mochila e partir, umas vezes sem rumo outras com algo predestinado, mas independentemente o resultado é sempre uma recarga das baterias para aguentar os próximos tempos, quando estes já se avizinham conturbados. A coisa toma outro encanto quando se pode mobilizar os amigos e gastar pouco dinheiro e desta feita, improvisa-se uma pausa de 3 dias a meio da semana e parte-se lá para os lados de Portalegre com estadia em Castelo de Vide. A viagem de 2 horas sempre brindada a chuva ante-vinha uns dias de refugio em casa em vez de explorar o potencial daquelas terras, temporal esse que se manteve neste quase um mês que se seguiu.
O ar frio e seco do campo invade imediatamente todos os alvéolos pulmonares logo ao primeiro contacto e a noite passou em amena cavaqueira no conforto de um termo-ventilador, até ao raiar do sol por detrás da magnifica vista do castelo de Castelo de Vide.
Marvão dista curta distancia de Castelo de Vide e logo após o almoço dirigi-mo-nos ao castelo por aquelas estradas onde o transito rareia e o silencio se torna senhor. Já havia passado por aquelas zonas sensivelmente há 3 anos, no inicio do pico do Verão onde o calor abrasador que rondava os 40ºC dificultara o acesso ao castelo, castelo esse que após muita transpiração fora conquistado na subida, nos brindou com um enxame de insectos que parecia uma nuvem negra no céu e deixavam picadas bastante dolorosas. que nos obrigaram a fugir. Ficara desse dia a recordação de um magnifico almoço junto ao rio em Fronteira mesmo ali no sopé da serra.  Desta vez com o calor a distar uns bons meses e na esperança de não ser recebido novamente por tão caridosos insectos iniciamos a subida daquele emaranhado de ruas.
O castelo encima-se no alto da Serra de São Mamede mesmo ali a fronteira com Espanha que a coroa vai para quase bem perto de um milénio, nos tempos em que os Mouros andavam a paulada com os Cristãos e a Península Ibérica não passada de um campo de batalha a grande escala. Lá pelo século XII o nosso primeiro rei conseguiu conquista-lo e fez parte do sistema defensivo português.
É impossível fugir à história que estas muralhas foram vivendo durante o passar dos séculos e quando se entra neste enorme complexo tem-se a sensação de que esse tempo das guerras faz parte de uma história recente e a passagem do tempo se rege por outro relógio diferente daquele que conhecemos.
As ruas vão serpenteando dentro das muralhas, como se desenhassem um labirinto com inúmeras saídas onde nos podemos perder a andar a pé. Àquela hora não se via vivalma em lado algum, as ruas desertas sem carros, sem pessoas, as portas todas fechadas os cafés e o posto de turismo com ar de que não abrem há longa data davam um certo ar de mistério e ao mesmo tempo de desalento aquele lugar, que mais parecia fantasma e abandonado ao tempo não fosse destoar uma loja de artesanato solitariamente aberta para os turistas que nunca chegaram a aparecer. Por entre as suas ruas abrem-se uns pequenos jardins com vista magnificas onde facilmente nos deixamos perder. Continuando a subir vamos sendo envolvidos por muralhas dentro de muralhas cada vez um espaços mais pequenos e de repente encontra-mo-nos bem no coração do castelo. 
De entre as muralhas abre-se uma porta com umas escadas no sentido da escuridão, uma tabuleta indica para acender a luz e vislumbrar a Cisterna, um espaço enorme sob umas arcadas húmidas coberto de água onde se diz que atiravam os prisioneiros das batalhas sem qualquer dó nem piedade. 
O frio penetrava nos ossos mas não impedira de um passeio ao redor das muralhas, de explorar os cantos e recantos do castelo e nos perdermos até ao fim do dia.
Anoitecia e descemos a serra com destino a casa, lá do alto acendiam-se as luzes e iluminara-se como uma serpente encaixada nos rochedos. De alma um pouco mais preenchida se regressava a casa com energia para aguentar mais um mês até à próxima partida, ficando a promessa de um dia regressar. 

   
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